sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Logun Edè rouba segredos de Oxalá

Logum Edé era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos o bajulava pela sua formosura. 

Um dia Oxalá conheceu Logum Edé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção. Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logum Edé queria mais, queria muito mais...

E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logum Edé. O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô. 

Deu as costas a Oxalá e fugiu. Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. 

Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda a vez que Logum Edé usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio:

"Que maravilha o milagre de Oxalá!". 

Toda a vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar.

Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta. O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação. 

Oxalá determinou que Logum Edé fosse homem num período e no outro depois fosse mulher. Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo de caça, e em outro tempo, no rio, comendo peixe. 

Começar sempre de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho de Logum Edé. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logum Edé um orixá.