Ossãe recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossãe para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossãe, a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Ossãe pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
- Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias, disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossãe permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto. Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
(Fonte: Lendas Africanas dos Orixás, de Pierre Verger Fatumbi)